E desde aquele momento, eu e o meu pai criámos uma espécie de laço que tinha ficado perdido ao longo destes anos que estivemos afastados e eu sabia que a partir de agora, nunca mais nos íamos separar.
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Acordei com o toque do meu telemóvel. Abri os olhos com alguma dificuldade e procurei o telemóvel com as minhas mãos. Enquanto procurava, deitei algumas das coisas pousadas na mesinha de cabeceira ao chão e nem me importei em apanhá-las. Quando finalmente agarrei o telemóvel, nem vi quem me ligava, simplesmente atendi.
- Estou? – Disse eu, com uma voz ensonada.
- Estavas a dormir?
Uma voz doce e terna, veio do outro lado e sorri. Não sabia porquê, mas a sua voz fazia-me sorrir.
- Porque é que me estás a ligar Mateus? Ainda é super cedo!
- Cedo? São quase 11h30!
- O quê?
E com isto dei um salto da cama. Não costumo acordar assim tão tarde. Sentei-me na borda da cama enquanto falava com Mateus.
- Eu não costumo acordar assim tão tarde… Ainda bem que me ligaste! Até parece que adivinhaste…
- Pois. O que é que andaste a fazer ontem à noite para acordares tão tarde? – Mateus finalizou com uma risada brincalhona.
- Não fiz nada! Tive um dia cansativo, foi isso.
- Um dia cansativo? O que é que fizeste?
- Fui almoçar com o meu pai e à tarde fui fazer compras no shopping.
- Pois… fazer compras é bastante cansativo. – Disse ele, ironicamente.
- E é! Nem sabes o que eu tive de percorrer até encontrar os calções que eu queria!
- Pois acredito.
- Eu tenho de me ir vestir, diz-me porque é que me ligaste.
- Eu queria perguntar-te uma coisa. Tens alguma coisa para fazer hoje à tarde?
- Não, não tenho. Já fizeste a pergunta, agora vou desligar. – Disse eu, num tom de brincadeira, sabendo que não era só aquilo que ele me queria dizer.
- Não! Não era essa a pergunta que eu te queria fazer. Queres ir dar uma volta, hoje?
- Pode ser…
- Está bem, então diz-me a tua morada que eu passo por aí para te ir buscar. Às duas e meia da tarde?
- Sim, pode ser a essa hora e eu mando-te a minha morada por sms.
- Está bem. Então até logo!
- Até logo.
E com isto ele desligou. Eu mandei-lhe a minha morada e logo a seguir fui vestir-me. Vesti os calções de ganga que tinha comprado no dia anterior e uma blusa verde de alças com folhos no decote. Calcei umas sandálias pretas estilo gladiador e penteei o cabelo e deixei-o solto. Fui comer alguma coisa para conseguir aguentar até ao almoço e depois fui ver o meu e-mail. Nada de interessante até ver que tinha um e-mail da Rute. O ‘assunto’ estava em branco e abri o e-mail. Começava por dizer que estava arrependida de ter sido tão dura comigo e disse também que nunca devia ter agido tão exageradamente. Mas explicou dizendo que estava apenas preocupada comigo e que só me queria proteger. E a partir daí as coisas começaram a ir pela colina abaixo. Nos parágrafos seguintes dava mil e uma razões para detestar o Mateus e como ele era mau para mim. Fiquei com tanta raiva! Muitas das coisas que ela dizia eram baseadas em boatos e suposições. Ela sabia perfeitamente que eu não ligava nada a essas coisas e nunca acreditava em nada que não tivesse provas. Num ato de pura fúria e ira, respondi ao e-mail dizendo apenas ‘Tanto mal dizes dele. E não queres que o veja outra vez… Pois adivinha. Vou sair com ele hoje.’ Ainda hesitei antes de carregar no botão de enviar. Depois de o ter enviado, senti culpa. Se calhar não devia ter dito aquilo. Se calhar esta foi a gota de água e nunca mais vamos ser amigas outra vez. Num instante passou o tempo e já era hora de almoçar. Depois de preparar mais uma piza deixada pela minha mãe, arrumei os utensílios que tinha usado e fui para o quarto arranjar-me. Pus alguma base no rosto, rímel e baton cor-de-rosa claro. Preparei a minha mala com tudo aquilo que precisaria e estava prestes a fechar o fecho da carteira quando ouvi a campainha. Corri pelas escadas e quando cheguei à porta, sem pensar, arranjei o cabelo e roupa, de modo a estar tudo perfeito. Abri a porta com um grande sorriso e as minhas bochechas ficaram rosadas e as pernas fraquejaram assim que olhei para os seus olhos castanhos.
- Olá. – Cumprimentou ele, sorrindo. Usava uma t-shirt branca, como sempre, com decote redondo, umas calças castanhas claras e um blusão preto.
- Olá. – Respondi eu, um pouco dormente. – Entra.
Deixei-o passar e fechei a porta. Ele ficou parado, a olhar para a casa e fiquei atrás dele sem saber o que fazer.
- A tua casa é bonita. – Disse ele, virando-se para mim e sorrindo.
- Obrigada. – Respondi eu, sorrindo também. – Eu vou lá cima buscar as minhas coisas. Podes sentar-te na sala.
Eu subi as escadas e ele foi para a sala. Fui ao meu quarto buscar a minha mala, sai do quarto e desci as escadas. Fui à sala de estar e encontrei-o a olhar para as fotos na pequena mesa ao pé da janela. Fui ter com ele.
- Então, vamos ou não? – Perguntei eu, mal cheguei perto dele.
- Esta és tu? – Disse ele, apontando para uma foto em que estava eu e os meus pais.
- Sim, sou. Tinha 6 anos. Foi no jardim zoológico.
Ele ficou com um ar pensativo e depois finalmente falou.
- Eu e a minha família íamos lá todos os anos.
- E já não vão?
- Não… pelo menos não comigo.
- Não contigo? Porquê? Porque já és mais velho? Não tens irmãos mais novos?
Ele virou-se para mim e sorriu.
- Esquece. Vamos?
Eu abanei a cabeça, consentindo. Eu voltei-me para a porta e ele seguiu atrás de mim, pondo a sua mão gentilmente nas minhas costas. Sentir o seu toque deu-me arrepios. Saímos de casa e assim que chegámos à rua, ele virou-se de maneira a ficarmos frente a frente.
- Então, onde vamos? – Perguntou ele.
- Podíamos ir para aquele lado. Íamos ao parque e depois passávamos pelo café e bebíamos qualquer coisa. – Respondi eu, apontando para o fim da rua, atrás dele.
Ele sorriu maliciosamente.
- O que foi? – Perguntei eu, confusa.
- Tu és muito despachada. Sabes o que queres e não hesitas. Eu gosto disso…
Eu olhei para baixo, timidamente. Sentia as minhas bochechas e ficar vermelhas e o Mateus agarrou suavemente no meu queixo e fez-me levantar a cabeça.